Buenos Aires nutre paixão pela psicanálise na região da Villa Freud

Uma praça, em Palermo, vive uma eterna crise de identidade: nasceu general Guemes; foi batizada como Santa Guadalupe; mas é conhecida como Praça Freud. É o que o pai da psicanálise chamaria de conflito entre repressão, religião e paixão.

Paixão que alguns reprimem, "não gosto de ver tantos turistas vindo procurar algo que é só interno. Só entre nós", desabafa o dono de uma banca de revista. O outro comerciante assume: "Villa Freud" é nome da farmácia dele, na esquina da praça. "De repente, aqui se povoou de consultórios, que antes não havia e é como se a zona tivesse feito um estalo freudiano, mas só encontramos uma escola de psicologia, algumas pichações malucas ou fachadas, como um edifício que rompeu a ordem estética."

Não parece, mas no local está uma das maiores concentrações de consultórios de psiquiatria, psicologia, psicanálise de Buenos Aires. Aos poucos, nosso amigo da banca revela mais. "Nós sabemos que aqui há muitos analistas, muitos psicólogos, porque conhecemos, porque nos dizem, aí, eu me analiso, sei lá, mas não passa disso. Não há placa, não há monumento, não há nada”. É raro mesmo ver placa de consultórios no local, dizem que é para evitar desgosto com os fiscais do governo.

Ao redor da praça já teve restaurante Freud, café Sigi, de Sigmund Freud, e até tentaram trocar a rua Medrano por rua Freud. Não deu.

O ar é melancólico nessa "Villa Freud" que povoa o inconsciente coletivo dos moradores e visitantes. “Às vezes, vêm turistas, muitos e todos procurando um monumento de Freud ou a rua Freud, mas no local não existe isso.


Quem disse que Freud não está em Buenos Aires? Ele parece estar por toda parte. Numa galeria escondida, encontramos uma livraria especializada no tema. São mais de 20 obras novas por mês e uma freguesia cativa de amantes da psicologia.

E não é que ela move o setor imobiliário? Veja o tanto de ofertas: aluguéis de consultórios por hora, dia ou mês. O cardápio dos corretores é bem flexível. E o que dizer das ofertas de cursos, congressos, seminários e especializações na área. Vai entender, os argentinos são loucos por psicologia. O país tem a maior concentração de psicanalistas no mundo. São 145 profissionais para cada 100 mil habitantes. Só na capital, há um psicólogo para cada 120 pessoas. E o que é pior, há demanda! Não por acaso: é terrinha do tango, de alma melancólica.


Do alto do terraço onde vive, o psiquiatra analisa a paciente nublada, chuvosa, engarrafada, com cara de noite, quando ainda é dia: "ela cresceu como se fosse um pouco Paris, um pouco Madri, Itália. Tem a nostalgia do passado”. O especialista diz que a cidade se associou muito à psicanálise por questionamento às instituições, à cultura e a busca de si mesma. "Nesse sentido, não foi capturada pela psiquiatria, nem pela medicina. A psicanálise aqui ocupa um lugar diferente. É uma revolução pessoal e cultural."

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